Senhora, se eu alcançasse
no tempo que ler quereis,
que a dita dos meus papéis
pola minha se trocasse;
e por ver
tudo o que posso escrever
em mais breve relação,
indo eu onde eles vão,
por mim só quisésseis ler.
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Depois de ver um cuidado
tão contente de seu mal,
veríeis o natural
do que aqui vedes pintado;
que o perfeito
Amor, de que sou sujeito,
vereis áspero e cruel,
aqui com tinta e papel,
em mim co sangue no peito.
.
Que um contino imaginar
naquilo que Amor ordena,
é pena que, enfim, por pena
se não pode declarar;
que, se eu levo
dentro n'alma quanto devo
de trasladar em papéis,
vede qual milhor lereis:
se a mim, se aquilo que escrevo?
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Luís Vaz de Camões | "A uma Dama que lhe mandou pedir algumas obras suas".
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