Quantos dos que conheci
(se de fato os conheci)
homens, mulheres
(se esta divisão ainda é válida)
cruzaram esta soleira
(se é uma soleira)
atravessaram esta ponte
(se chamarmos isso de ponte) —
.
Quantos depois de uma vida curta ou longa
(se isso para eles ainda faz diferença)
boa, porque começou,
má, porque acabou
(se não prefeririam dizer o contrário)
se encontraram na outra margem
(se é que se encontraram
e se a outra margem existe) —
.
Não me é dada a certeza
de seu destino posterior
(se há mesmo um destino comum
e ainda é um destino) —
.
Tudo
(se não restrinjo com a palavra)
têm já atrás de si
(se não à sua frente) —
.
Quantos deles saltaram do tempo que corre
e desapareceram tristemente na distância
(se vale confiar na perspectiva) —
.
Quantos
(se a pergunta faz sentido,
se é possível chegar à soma final
sem incluir a si mesmo na conta)
caíram no mais profundo dos sonos
(se não há um mais profundo) —
.
Até logo.
Até amanhã.
Até o próximo encontro.
Isto já não querem
(se não querem) repetir.
Entregues a um infinito
(se não outro) silêncio.
Ocupados só com aquilo
(se é só aquilo)
a que os obriga a ausência.
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Wislawa Szymborska | "Cálculo elegíaco".
(Tradução Regina Przybycien)
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Wislawa Szymborska | "Cálculo elegíaco".
(Tradução Regina Przybycien)
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