domingo, 12 de marzo de 2017

Os sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
"Meu pai foi à guerra!"
"Não foi!" "Foi!" "Não foi!"
.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: "Meu cancioneiro
É bem martelado.
.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
"Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
.
Urra o sapo-boi:
"Meu pai foi rei!" "Foi!"
"Não foi!" "Foi!" "Não foi!"
.
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
"A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."
.
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
"Sei!" "Não sabe!" "Sabe!"
.
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
.
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
.
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
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Manuel Bandeira | "Os sapos".
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