Darwin.
Dizem que para relaxar lia romances.
Mas tinha uma exigência:
não podiam acabar mal.
Se achasse um assim,
atirava-o ao fogo com fúria.
.
Verdade ou não —
sou propensa a acreditar.
.
Percorrendo com a mente tantos espaços e tempos
saturou-se de ver tantas espécies extintas,
tantos triunfos dos mais fortes sobre os mais fracos,
tamanhas tentativas de sobrevivência,
mais cedo ou mais tarde inúteis,
que pelo menos da ficção
e sua microescala
tinha direito de exigir um happy end.
Portanto, necessariamente: um raio de sol entre as nuvens,
os amantes juntos de novo, famílias reconciliadas,
dúvidas dissipadas, fidelidade recompensada,
bens recuperados, tesouros desenterrados,
vizinhos arrependidos de sua birra,
o bom nome devolvido, a avareza envergonhada,
solteironas casadas com respeitáveis pastores,
intrigantes deportados para o outro hemisfério,
falsificadores de documentos jogados das escadas,
sedutores de donzelas a correr para o altar,
órfãos acolhidos, viúvas confortadas,
o orgulho humilhado, feridas cicatrizadas,
filhos pródigos convidados à mesa,
o cálice de amargura derramado ao mar,
lenços molhados das lágrimas de reconciliação,
canto e música gerais,
e o cãozinho Fido,
perdido já no primeiro capítulo,
que corra de novo pela casa
latindo de alegria.
.
Wislawa Szymborska | "Consolação".
(Tradução Regina Przybycien)
.
Wislawa Szymborska | "Consolação".
(Tradução Regina Przybycien)
.
No hay comentarios.:
Publicar un comentario