viernes, 11 de agosto de 2017

E só me veja

E só me veja
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No não merecimento das conquistas.
De pé. Nas plataformas, nas escadas
Ou através de umas janelas baças:
Uma mulher no trem: perfil desabitado de carícias.
E só me veja no não merecimento e interdita:
Papéis, valises, tomos, sobretudos
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Eu-alguém travestida de luto. (E um olhar
de púrpura e desgosto, vendo através de mim
navios e dorsos.)
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Dorsos de luz de águas mais profundas. Peixes.
Mas sobre mim, intensas, ilhargas juvenis
Machucadas de gozo.

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E que jamais perceba o rocio da chama:
Este molhado fulgor sobre o meu rosto.

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Hilda Hilst | "E só me veja".
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