domingo, 10 de septiembre de 2017

Canção quase inquieta

De um lado, a eterna estrela,
e do outro a vaga incerta,
.
meu pé dançando pela
extremidade da espuma,
e meu cabelo por uma
planície de luz deserta.
.
Sempre assim:
de um lado, estandartes do vento…
do outro, sepulcros fechados.
E eu me partindo, dentro de mim,
para estar no mesmo momento
de ambos os lados.
.
Se existe a tua Figura,
se és o Sentido do Mundo,
deixo-me, fujo por ti,
nunca mais quero ser minha!
.
(Mas, neste espelho, no fundo
desta fria luz marinha,
como dois baços peixes,
nadam meus olhos à minha procura…
Ando contigo e sozinha.
Vivo longe e acham-me aqui…)
.
Fazedor da minha vida,
não me deixes!
Entende a minha canção!
Tem pena do meu murmúrio,
reúne-me em tua mão!
.
Que eu sou gota de mercúrio,
dividida,
desmanchada pelo chão…
.
Cecília Meireles | "Canção quase inquieta".
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