viernes, 19 de enero de 2018

A uma ausência

Sinto-me sem sentir todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal, que me consome, me sustenta;
O bem que me entretém me dá cuidado.
.
Ando sem me mover, falo calado,
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta,
Alegro-me de ver-me atormentado.
.
Choro no mesmo ponto em que me rio,
No mor risco me anima á confiança,
Do que menos se espera estou mais certo;
.
Mas se de confiado desconfio,
É porque entre os receios da mudança
Ando perdido em mim como em deserto.
.
António Barbosa Bacelar | "A uma ausência".
.

No hay comentarios.: